Parecidos? Coudet e Ramírez apresentam ideias totalmente diferentes
Quais as semelhanças entre o 4-3-3 de Ramírez e o 4-1-3-2 de Coudet? O jogo é posicional ou funcional? Entenda!
Circulam nas redes sociais comparações entre os estilos de jogo de Miguel Ángel Ramírez e Eduardo Coudet. Mas será que o espanhol, atual treinador, realmente tem desenhando um Internacional semelhante ao do argentino que deixou o colorado para assumir o Celta de Vigo?
Para a análise faremos comparações entre o desenho tático dos treinadores, concepções de posicionamentos e a filosofia de cada um quanto a ataque, defesa e pressão em cada um dos setores do campo.
Como é o futebol posicional de Ramírez
O futebol posicional de Ramírez é uma variação da “escola Guardiola”, que já foi vista no Brasil na tentativa de Domènec Torrent no Flamengo. Neste estilo de jogo, cada peça deve cumprir exatamente seu papel tático (ignorando até mesmo a bola) e fazendo sacrifícios geográficos para proporcionar a amplitude do campo.
Neste ponto base do estilo de jogo já surge uma diferença expressiva quanto ao futebol praticado por Coudet. No jogo do argentino, diversas peças tinham liberdade para realizar diferentes movimentações e buscar a pressão constante na bola.
O desenho inicial de Ramírez é um 4-3-3, algo que tem maiores semelhanças com Abel Braga do que com Coudet. Para a saída de jogo, surge uma das únicas semelhanças entre Ramírez e Coudet: recuar o primeiro volante para proporcionar a liberação dos alas e maior amplitude para os zagueiros.
Sobre os alas, Ramírez prepara movimentos para que os pontas joguem extremamente abertos, fazendo com que a amplitude seja gerada no campo. Os alas, por sua vez, buscam posicionamentos centrais, fazendo o preenchimento de meio e buscando interações, tanto com o meio-campo quanto com os alas (posicionados de forma ampliada).
Em resumo, a estratégia de Ramírez é oferecer um jogo propositivo em cima do futebol posicional. O Internacional deve repetir o 4-3-3 na maior parte da temporada. Para entender mais sobre a ideia de Ramírez, a entrevista de Henry (comentando sobre o Barcelona de Guardiola) é esclarecedora sobre a necessidade de confiança entre os companheiros e da manutenção das posições, evitando movimentos comuns (e zonas de conforto) e forçando um jogo de posições.
Como é o futebol funcional de Coudet
Eduardo Coudet utiliza um jogo também propositivo, porém com diferenças conceituais na execução dos movimentos e disposição das peças em campo. Esse futebol pode ser definido como funcional, porém não tem termos especificamente precisos sobre seus movimentos.
O desenho tático de Coudet é um 4-1-3-2, apresentando uma linha defensiva com 4 jogadores, com um volante fundamental na distribuição de jogo. Logo após esse volante, uma linha de três, que faz a sustentação de meio-campo e com uma figura central determinante: o motorzinho (box-to-box).
Esse jogador central atua com liberdade no meio-campo para coordenar as ações, enquanto os meias deslocados para as laterais cumprem papéis fundamentais na marcação e também construção de jogo.
Para a saída de bola, o volante também retorna para a linha de zaga, gerando amplitude nos zagueiros e dando liberdade para os laterais. Aqui uma diferença expressiva: Os laterais de Coudet jogam extremamente abertos, logo após ganharem essa liberdade, fazendo justamente uma função semelhante a dos pontos de Ramírez.
Enquanto os laterais de Ramírez ocupam uma posição centralizada, até mesmo parecida com a dos meias lateralizados de Coudet, o posicionamento dos laterais do técnico argentino são a forma de gerar amplitude no campo.
No ataque, outra diferença expressiva. Coudet utiliza dois atacantes, sem definir a função do 9 clássico e dando liberdade para diferentes movimentações e formas de pressão. Neste estilo funcional, a ideia é pressionar muito a zona de jogo, sempre buscando mover o sistema de jogo para a área onde a bola se encontra. Neste modelo, a pressão é constante e o nível de manutenção das funções táticas reduz, tendo em vista que os jogadores são liberados para buscarem pressionar a bola onde quer que ela esteja. Um dos pontos negativos é o nível de desgaste físico dos atletas.
Comparações e rótulos são falhos. Cada treinador apresenta diferentes conjuntos de características que fazem cada trabalho ser original. Guardiola fez um excelente trabalho no Barcelona. Torrent não conseguiu (e nem teve tempo) desempenhar o mesmo no Flamengo. Ramírez foi extremamente feliz no Dell Valle, porém agora terá de provar seu valor no Internacional, prova essa que necessitará de tempo e paciência. Note, três treinadores de escolas e ideias semelhantes.
Coudet foi bem no Racing, conseguiu chegar a liderança do Brasileirão no Inter e é destaque na Espanha por dar estabilidade ao Celta de Vigo. Sua ideia de jogo, no entanto, apresentou diversas falhas no processo de aprendizagem do Internacional. Jorge Jesus, que adota um estilo de jogo muito semelhante ao do argentino, também conseguiu sucesso no Brasil, levando o Flamengo a conquistas e recordes. Retornando para Portugal, Jesus ainda não conseguiu dar segurança a equipe do Benfica.
Diante de tudo isso, fica claro que cada treinador (em cada contexto) apresenta soluções diferentes (após partirem de bases conceituais). O futebol não deve ser definido como moderno ou antigo e os rótulos apenas atrapalham. O que fica claro é: Paciência, tempo, treino e execução caminham em conjunto para a evolução de cada ideia de futebol.